História
de Kupẽ Nhêp
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Outra história de origem é aquela que conta como se modificou a língua e os
nomes grandes, os quais foram incorporados no decorrer do tempo pelos Apinajés,
segundo relatos de Maria de Jesus Sirax.
A história de kupẽ nhêp (homem morcego), faz parte de outra lógica de
acreditar e que vem complementar a fundamentação e a compreensão dos conteúdos
simbólicos de outras histórias e dos mitos já citados anteriormente.
De
acordo com os relatos de Maria de Jesus Sirax, kupẽ nhêp (homem morcego) era um
povo habitante de caverna dentro do território, localizada na passagem entre as
antigas aldeias Botica e Curralinho – atualmente chamado de Cocalinho. No
passado, havia uma população muito maior entre as aldeias e uma delas é a
Botica. Os homens costumavam sair para caçar ou até mesmo para visitar outras
aldeias como as aldeias Curralinho, Macaúba e Botica e faziam toda essa rota
caminhando.
Alguns
deles passavam pela caverna dos kupẽ nhêp e estes os atacavam, matavam,
golpeavam na nuca com machado de pedra e carregavam o corpo preso com as patas.
Naquela época, a população era muito grande, de modo que ninguém sentia falta
das pessoas que desapareciam.
Um
dia, alguém percebeu que estava diminuindo a população, mas não se sabia por
qual motivo. Então passaram a investigar essa misteriosa matança das pessoas
daquela aldeia. Mandaram duas pessoas para fazer passagem pela caverna dos kupẽ
nhêp. Ao se aproximarem, um deles ficou para trás. Resolveu entrar nas moitas
para fazer necessidade fisiológica, enquanto o seu companheiro foi na frente.
De repente observou um kupẽ nhêp descendo do alto da montanha com kop jamã
(instrumento para matar), em direção ao homem que estava passando pela caverna.
Atacou, o matou, e voltou carregando-o para o alto da montanha. O companheiro
que ficou para trás observou aquilo e ficou com medo. Dali mesmo voltou para
aldeia e não seguiu em frente. Ao chegar contou o ocorrido ao seu povo. Então,
finalmente, foi descoberta a causa das mortes misteriosas das pessoas: eram
esses homens morcego que estavam matando os homens daquelas aldeias.
Na
versão de Maria de Jesus Sirax, kupẽ nhêp já tinha causado a morte de milhares
de pessoas, por isso a população estava sendo reduzida. Porém a causa foi
percebida a tempo e o povo tomou uma decisão de atacar e matar os kupẽ nhêp
como forma de vingança, pela morte de milhares de pessoas da aldeia.
Deslocaram
homens da aldeia em grande quantidade com arco e flechas. Cercaram a caverna e
decidiram colocar palha na entrada da caverna para colocar fogo. Um grupo subiu
até o alto da serra para bloquear a saída do alto. No entanto, um dos homens
pôs fogo por baixo, na entrada da caverna. Como a estratégica montada para matar
os homens morcego não foi segura, eles conseguiram escapar pelo buraco no topo
da caverna e fugiram todos em direção a sudoeste do território.
Quando
entraram no interior da caverna, os homens observaram o formato circular das
casas, pátio e muitos vestígios ali. Por baixo de uma pedra encostada na parede
da caverna havia um filhote de kupẽ nhêp deixado pelos pais. Alguns quiseram
matá-lo. Um dos homens pegou-o para levar consigo, talvez pelo fato que era um
casal que não tinha filho, por isso levou-o para ser adotado. À noite, o
filhote de kupẽ nhêp não dormia deitado. Sua mãe aconselhou que colocasse uma
vara para ele que agarrou com suas patas em posição de cabeça para baixo e
dormiu tranquilamente. O tempo passava, o filho de kupẽ nhêp já estava crescido
e na oportunidade em que foi ao banho com sua avó levou uma porção de areia do
ribeirão, pediu que fizesse a espécie de ê gre que significa pipoca na língua
de kupẽ nhêp. A princípio sua avó se recusou a fazer ê gre, porque não sabia o
que era, mas depois atendeu. Ao voltar do banho, o filho de kupẽ nhêp orientou sua
avó para que colocasse areia trazida do ribeirão num recipiente. O próprio
filho de kupẽ nhêp levou ao fogo os grãos de milho, gerou a espécie de pipoca
que os Apinajé não conheciam. Ele comeu a pipoca de milho e fazia brincadeiras
com cantos dos seus ancestrais. Até então não se sabiam os cantos de kupẽ nhêp
entre o meu povo, e aquilo serviu como aprendizagem para sua avó. O filho de
kupẽ nhêp disse que deveriam existir, entre os Apinajé, os nomes como Grer,
Pãx, Ire, Màxỳ e outros, como forma mais adequada, como verdadeiros nomes que
passam para os filhos e netos. O filho de kupẽ nhêp morreu ainda jovem, não
deixou herdeiro entre os Apinajés, segundo relatos de Maria de Jesus Sirax.
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Autores:
Cassiano Apinagé e Odair Giraldin