O meu Cajueiro
Aos treze anos
de minha idade e três da sua, separamo-nos, o meu cajueiro e eu. Embarco para o
Maranhão, e ele fica.
Na hora,
porém, de deixar a casa, vou levar-lhe o meu adeus. Abraçando-me ao seu tronco,
aperto-o de encontro ao meu peito. A resina transparente e cheirosa corre-lhe
do caule ferido. Na ponta dos ramos mais altos abotoam os primeiros cachos de
flores miúdas e arroxeadas como pequeninas unhas de crianças com frio.
- Adeus, meu
cajueiro! Até à volta!
Ele não diz
nada, e eu me vou embora.
Da esquina da
rua, olho ainda, por cima da cerca, a sua folha mais alta, pequenino lenço
verde agitado em despedida.
Estou em São
Luís, homem-menino, lutando pela vida, enrijando o corpo no trabalho bruto e
fortalecendo a alma no sofrimento, quando recebo uma comprida lata de folha
acompanhando uma carta de minha mãe:
"Receberás
com esta uma pequena lata de doce de caju, em calda. São os primeiros cajus do
teu cajueiro. São deliciosos, e ele te manda lembranças."
Recebendo a
carta de minha mãe, choro sozinho. Choro pela delicadeza da sua ideia. E choro,
sobretudo, com inveja do meu cajueiro. Por que não tivera eu, também, raízes
como ele, para me não afastar nunca, jamais, do quintal em que havíamos
crescido juntos, da terra em que eu, ignorando que o era, havia sido feliz?
Humberto de Campos
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